"Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim." (João 5.39).
O movimento conhecido como Teologia da Prosperidade é uma heresia. Heresia (do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção") é a doutrina ou linha de pensamento contrária ou diferente de um credo ou sistema de crenças tidos como certos e/ou verdadeiros. Talvez Essek William Kenyon (nascido em 24 de abril de 1867, falecido em 19 de março de 1948) não tivesse ideia de quantos males traria à visão tradicional e por isso tenha lançado as bases do que hoje se identifica como confissão positiva.
A confissão positiva, como o próprio nome já o diz, consiste em pôr a fé para agir, de forma turbinada, através daquilo que eu evocar. Verbalizando de forma imperativa, estarei assumindo minha posição no Reino, a de filho de Deus e co-herdeiro de Cristo. Kenneth Erwin Hagin (McKinney, 20 de agosto de 1917 — Tulsa, 19 de setembro de 2003), considerado o pai do Movimento Palavra de Fé, conseguiu traduzir o pensamento de William Kenyon através de inúmeras obras publicadas e isso tem atingido ao longo de décadas centenas de países e tem chegado ao Brasil desde a década de 1980 revolucionando a maneira de agir e de pensar de milhares de piedosos cristãos, como a pastora Valnice Milhomes (Ministério Palavra da Fé/Igreja Nacional) e tantos outros.
O rescaldo desse verdadeiro incêndio teológico produziu o cenário perfeito para a instauração do Neopentecostalismo no Brasil. Primeiro, a meu ver, porque a mensagem é sedutora. Fala de bem-estar, de prosperidade, riquezas, libertação e curas. Quem não conhece a Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, a IURD-Igreja Universal do Reino de Deus do Bispo Edir Macedo, a mais recente, a Igreja Mundial do Poder de Deus do Apóstolo Valdomiro Santiago. Quando me refiro a essas denominações logo me vêm à mente as megas concentrações comuns a elas, que conseguem reunir facilmente centenas de milhares de pessoas, numa verdadeira demonstração de poder de mobilização.
Segundo, porque salvo exceções, a chamada que se faz é extensiva a todos os adeptos das demais crenças e linhas filosóficas, havendo espaço até para "ateus". Esse sincretismo religioso descomprometido tem se ligado apenas pelo que GUARESCHI identificou em seu estudo sociológico intitulado "Sem Dinheiro não Há Salvação". Dessa premissa tem originado os verdadeiro impérios neopentecostais em plena pós-modernidade, como quem diz, é Terceiro Milênio mais as demandas espirituais não conhecem limites nem espaços de tempo e o homem de hoje sempre terá referencia no de ontem.
Mas, chegando ao clímax da questão, pego-me folheando a revista da CPAD, 1º Trimestre/2012, discorrendo sobre o movimento da teologia da prosperidade. Muito bem. Vamos debater nas nossas escolas bíblicas sobre esse assunto. Contudo, não podemos nos esquecer que somos também teólogos da prosperidades. Uns defendem com unhas e dentes sem o saber. Esses são os obreiros despreparados teologicamente que abarrotam os púlpitos no domingo à noite. Outros, em menor número, são teólogos da prosperidade sim e sabem que são.
A maioria de nossos pregadores das Assembleias de Deus tem como ponto culminante de suas pregações o movimento de curas, distribuições de bençãos incluindo chaves de carro virtuais, mas é preciso a pessoa estender a mão em sinal de recebimento. Eles fazem verdadeiros shows que para ser completos precisavam incluir a pirotecnia. Mas a mensagem da cruz, a palavra de arrependimento e salvação pouco se vê. As mensagens são predominantemente de autoajuda. Expressões que são verdadeiros mantras noutras religiões ouvem-se em nossos cultos.
Nunca dantes de ouviu ou viu algo dessa natureza nas Assembleias de Deus, mas hoje tornou-se comum: campanha da libertação; campanha das sete semanas etc etc. Isso é teologia da prosperidade puríssima, mas veraz que aquela que criticamos em nossa lição. Pergunto: você não é teólogo da prosperidade? Coisas do tipo: vire-se para o seu irmão e diga... Não nasceu na Assembleia de Deus, é coisa importada.
O que nasceu na Assembleia de Deus foi a pregação genuína da palavra de Deus ("Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse", Jeremias 23.31/"Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo", 1 Coríntios 1.17/"prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina", 2 Timóteo 4.2/"Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus", 1 Coríntios 1.18).
A proeminência é a pregação da palavra de Deus. A mensagem deve ser integralmente salvacionista ("aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o SENHOR", Jeremias 23.28). Todas as demais coisas ou fenômenos são secundários. Primeiro Jesus ordenou: "Ide e pregai". O que vier após isto pode ser uma benção indescritível, mas é secundário, nunca primário! ("E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura; Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado; E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. ", Marcos 16.15-18).
Jesus não autorizou nenhum especialista em curas, nem incitadores do batismo com Espírito Santo, nem quaisquer outros tipos de sinais que vemos proliferar em nossas igrejas sob o rótulo de poder de Deus, desprovidos da mensagem salvadora. Se isso acontece com frequência e temos contribuído solenimente para que tal movimento cresça entre nós, é porque somos ou temos sido teólogos da prosperidade tanto quanto eles, os originais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário