TEXTO: "Qual ave que vagueia longe do seu ninho, tal é o homem que anda vagueando distante do seu lar." (Pv. 27.8); "E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente." (Lc. 15.13).
INTRODUÇÃO
A Bíblia Sagrada parece insistir num fato importante: todos nós existimos em função de um lugar. No salmo 104, versículos 16 em diante está escrito que "as árvores do Senhor fartam-se com a seiva, os cedros do Líbano que ele plantou, onde as aves se aninham; quanto à cegonha, sua casa é nas faias. Os altos montes são para as cabras monteses, e os rochedos são refúgio para os coelhos... O lugar onde crescemos e nos desenvolvemos, onde temos o apoio necessário ao preparo para encarar o mundo como pessoas adultas e responsáveis, chama-se lar.
I. O ACONCHEGO DE UM LAR
O versículo 8, do capitulo 27 de Provérbios lança mão de um comparativo entre a ave distante do seu ninho e o homem distante do seu lar para deixar subtendido que tanto um como o outro padece de um mesmo mal, a falta de sossego, de paz, de tranquilidade.
A palavra ‘ninho’ transmite a ideia de aconchego. Quem está no conforto de seu lar, por mais simples que seja, sente-se seguro, ao lado de pessoas de sua convivência.
O filho da parábola narrada por Jesus, tinha tudo a seu dispor. Era rico, seu pai tinha trabalhadores a seu serviço. Ele tinha tudo, menos a percepção exata de sua felicidade, como muita gente que não poupa palavras para reclamar da vida, embora possuindo o bastante.
Certo dia, conta-nos a parábola, o filho disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que tenho direito. E o pai, repartiu entre eles seus haveres. Não passando muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo que tinha, partiu para uma terra longínqua. Parece ficar claro, que o jovem já tinha um roteiro em mente. Foi-se para além dos limites de sua família, de sua gente, de seu país.
A experiência mais comum demonstra que, enquanto temos dinheiro e bens não faltam "amigos", são exatamente os companheiros oportunistas, amantes da ocasião, das baladas, nas noitadas que nos acham o máximo. São capazes de, no calor das emoções, jurarem amizades eternas, numa relação de quase irmandade.
O rapaz, distante de seu lar, num outro país, passou a viver dissolutamente, era o típico jovem esbanjador. Gastando sem repor, sem medir consequências até que se viu totalmente sem dinheiro. Essa situação logo o transforma num andarilho. Sem dinheiro, sem amigos, sem lar, sem alimento, sem ter onde descansar. Vendo o tempo passar e sua situação piorar ao extremo. Ele sendo judeu, agregou-se a cidadãos daquele lugar e estes o enviaram para trabalhar em seus campos. E deram-lhe a cuidar de porcos. Ele estava tão vunerabilizado, reduzido ao nada, despessoalizado, uma vergonha encontrar-se com alguém conhecido. Talvez não. Quem o reconheceria daquele jeito?
Ele vendo os restos que os porcos sobejava, desejava comer, mas nem isso lhe fora dado.
Então, ele começou a pensar. Claro, para onde ir se já atingiu todos os limites inferiores. Com tempo para a reflexão, agora restava equacionar bem sua situação. Continuar naquela vida era o fim. (Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor - Rm. 6.23). Além do mais, a fome extremada o compelia a uma atitude do tipo "tudo ou nada". "Quantos dos trabalhadores do meu pai tem pão com abundância e eu aqui padeço de forme!" Ele reagiu decididamente: "Levantar-me-ei e irei ao encontro de meu pai!"
O texto é nítido e preciso ao mostrar que o pai foi quem o avistou ao longe. Dando-nos uma ideia de que possivelmente o pai nunca havia desistido dele e guardava bem no fundo de seu coração a esperança de vê-lo voltar algum dia, exatamente como sucedeu.
"Correndo o abraçou e o beijou. Mandou que trouxessem um anel e pôs em seu dedo, roupas e sandálias novas, e mandou matar um novilho cevado e disse: comamos e nos alegremos porque esse meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a se alegrar."
Quem sairia ao encontro de um derrotado? Um rico e dono de terras? Dificilmente sairia. Quem abraçaria um moribundo e beijaria não querendo nem ouvir seus argumentos de arrependido? Acho que dificilmente alguém se portaria dessa forma. A não ser que esta pessoa fosse movida por um sentimento chamado compaixão.
II. A FORÇA DA COMPAIXÃO
O pai sabia exatamente que poderia ignorar o filho desertor. Em vez disso, correu e o abraçou e beijou, recebendo-o não como um de seus empregados, mas como filho. Dando-lhe, de novo, a restituição de sua antiga posição como filho. A compaixão é um sentimento que nos move a agir assim. Para quem tem compaixão, não interessa as consequências dos atos e até danos que outros tenham causado. Esse é o verdadeiro sentido. A pessoa tem toda a condição de subjulgar, de reduzir o ofensor a pó, mas em vez disso, o abraça e beija, e se alegra por reavê-lo vivo.
Naturalmente, aquele jovem não fazia ideia de que iria ser recebido assim. Sem críticas acusativas, sem apontamentos ou cobranças. O mais provável seria um encontro frio e cheio de rancor, afinal, ele saiu de casa, deixando um coração ferido, o de seu pai. Mas o pai, cheio de termo amor aguardou aquele dia em que o veria novamente. Para quem ama e tem compaixão a volta, o retorno, o arrependimento, se reveste de uma motivação superior que envolve, reanima, dar novo sentido a vida.
CONCLUSÃO
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